Orfandade espiritual e a paciência na espera pelo novo de Deus.
Há momentos na caminhada espiritual em que o coração experimenta um silêncio profundo. É como se, de repente, o céu se fechasse, e aquela presença amorosa que antes era sentida com clareza agora parecesse distante. Essa experiência, chamada de orfandade espiritual, é um tempo de provação e amadurecimento da fé. Em nossa igreja particular e universal temos experimentado tal realidade!
Na orfandade espiritual, o fiel se vê despojado dos consolos sensíveis da fé. Não se trata de abandono divino, mas de um modo misterioso pelo qual Deus purifica o coração, convidando à confiança mais pura. É como o silêncio de um pai que observa o filho dar seus primeiros passos sozinho, não por ausência, mas por amor que acredita na capacidade de crescimento do outro.
Esse tempo exige uma virtude esquecida nos dias de hoje: a paciência. Porque o que está acontecendo no invisível é uma gestação. O silêncio de Deus não é vazio, mas fecundo. Há um novo sendo preparado no coração do Pai, e é preciso aprender a esperar por ele com fé firme e coração manso.
Esperar por aquilo que Deus está gerando requer abandono e confiança. Assim como o ventre guarda a vida antes que ela possa ser vista, o coração de Deus guarda promessas que só se revelarão no tempo oportuno. E nesse tempo de gestação espiritual, a paciência não é passividade, mas atitude ativa de quem vigia, reza, permanece e ama, mesmo sem compreender.
A orfandade espiritual, portanto, não é sinal de rejeição, mas um convite à maturidade, à comunhão mais profunda, à esperança que não decepciona. Porque o Pai nunca esquece os seus filhos. E quando o tempo da gestação chega ao fim, a alma renasce mais firme, mais livre, mais cheia de luz.
Permaneça. Espere. Confie. O novo de Deus está a caminho.
_Pe. Marcelo Campos da Silva D’ippolito_
*Pároco da paróquia Nossa Senhora da Conceição – Rio das Ostras/RJ