Onde está Deus?
As tragédias naturais estão presentes na história da humanidade desde que o mundo é mundo.
Em 2011, a nossa região serrana do estado do Rio de Janeiro foi atingida por um enorme temporal fazendo milhares de vítimas em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis. O ano passado tivemos o acontecimento que chocou o mundo com mais de 40.000 mortes a tragédia do terremoto na Síria e Turquia.
O temporal no litoral norte no estado de São Paulo no ano passado deixando mais de 40 mortos, muitos desabrigados, além de ter fechado as estradas é mais uma cena de dor, sofrimento e desespero para o nosso povo. Como também a tragédia no Rio Grande do Sul que devastou cidades, deixando o Estado numa cena deplorável com mortos, desabrigados… Um verdadeiro caos!
Estamos acompanhando as queimadas no Brasil. Em dados recentes do Programa de Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já colocam 2024 como um dos anos com maior quantidade de focos de queimada na última década. Setembro já contabilizou mais de 80 mil focos, cerca de 30% acima da média histórica, registrada desde 1998 pelo Inpe.
A pergunta “Onde está Deus” pode ressoar pelos corações, mentes e lábios, sobretudo dos atingidos. É natural que o ser humano, diante dessa sua impotência, faça essa interpelação ao Criador e não há nada de absurdo nisso!
Lembremos que a narrativa bíblica do êxodo Hebreu durou 40 anos em busca da terra prometida e Deus nunca esteve indiferente ou ausente diante do sofrimento do seu povo, assim como de suas dúvidas, questionamentos, lamentações… Respondendo com gestos concretos ao demonstrar todo Seu Amor e fidelidade a este mesmo povo.
Diferente do que afirmavam os panteístas (corrente filosófica- depois considerada herética- que dizia que tudo e todos compõem Deus abrangente e imanente ou que o universo e Deus são idênticos, tampouco acreditavam num Deus pessoal e que assumiu forma humana), nós, cristãos católicos asseguramos, segundo o Catecismo, a Onipresença de Deus. Ele está em toda parte e continua a ser sensível aos apelos do Seu povo!
A resposta não pode ser apenas simplista; os fatos vão para além de um questionamento a Deus e a sua permissão (permissão sim, vontade não!), se assim podemos nos expressar diante de tal catástrofe.
O homem, na sua liberdade e ganância, tem desvirtuado todo o curso normal da natureza desde os nossos primeiros pais no paraíso do Éden. O plano de Deus sempre foi a harmonia e a paz para todos os seus filhos e filhas, é bom que se afirme isto!
A agressão ao meio ambiente é fruto da irresponsabilidade da humanidade. Não é à toa que o Papa Francisco tem chamado nossa atenção para o cuidado com a casa comum. Olhando de modo particular para o nosso país, são raras as cidades que fazem um planejamento estratégico para que as pessoas possam construir suas casas longe do perigo iminente dos fenômenos naturais. Inclusive estamos para eleger novos prefeitos e vereadores. Você já parou para analisar os projetos desses candidatos? Eles apresentam políticas públicas referentes ao meio ambiente? Costumo dizer que Deus perdoa sempre, já a natureza nem sempre!
Não há como cobrarmos a presença de Deus diante da nossa irresponsabilidade social e política que muitas vezes foi perversa colocando seus interesses pessoais, mesquinhos e gananciosos acima do bem comum.
O ser humano se vê obrigado a construir suas moradias em situações de risco por não ter condições de ocupar lugares seguros. E, por outro lado, muito dos nossos homens públicos fazem a famosa “vista grossa” para essa situação. Parece ser mais fácil não ter comprometimento com a vida!
Diante de todos esses fatos não duvidamos da presença de Deus que está nas ações de solidariedade, nos agentes da defesa civil, nos bombeiros que são verdadeiros anjos e muitas outras ajudas em todos os sentidos. Além disso, muitas vítimas são o retrato de Deus na nobreza de reconhecer que, apesar de todo sofrimento, professam sua fé na conhecida expressão: “vão-se os anéis e ficam-se os dedos.”
Outrossim, não há revolta e sim ajuda e solidariedade entre essas pessoas que são as vítimas de toda essa situação tão dolorosa. Nisto não temos dúvida da presença de Deus em cada gesto concreto de fraternidade!
Todos os anos entre Janeiro e Fevereiro temos sempre esses desastres naturais. O alerta da natureza não falha! Falta um despertar da humanidade para fazer a leitura dos acontecimentos e buscar caminhos para preservar a vida.
Oh homem, acorde e, sobretudo aqueles que tem o poder em suas mãos para realizarem o bem! A natureza grita e pede socorro!
Que haja respeito e vontade política de reconstruir a vida! Que os novos prefeitos e vereadores que forem eleitos no próximo domingo se empenham em manter essa postura de defenderem o meio ambiente!
Que a Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda pelo nosso amado povo brasileiro e, sobretudo, por essas vítimas!
Pe Marcelo Campos da Silva D’ippolito
Pároco da paróquia Nossa Senhora da Conceição – Rio das Ostras/RJ