Na última segunda-feira tive a oportunidade de assistir o filme AINDA ESTOU AQUI, uma produção nacional que, felizmente, está levando o brasileiro de volta a consumir cultura e orgulhar-se do que é produzido aqui.
Trata-se da história de Eunice Paiva em busca do reconhecimento do estado pela morte do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira. O longa-metragem é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal.
O filme vai narrando a história da família Paiva, centrada na figura da mãe, Eunice, e, sob uma ótica feminina, retratando como uma família de classe média foi abalada pelo desaparecimento do pai, após ser capturado por militares, e quais as consequências desse acontecimento para os sobreviventes.
A narrativa do filme reproduz exatamente a época em que se deram os fatos, no início da década de 1970. O Brasil enfrentava o endurecimento da ditadura militar. Tudo se passa no Rio de Janeiro, a família Paiva – Rubens, Eunice e seus cinco filhos, vivem à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece.
As cenas da captura de Rubens Paiva são muito impactantes e mostram o quanto o regime militar foi um período de sombras em nosso país! Fico mais triste ainda em ver que temos gente desejosa do retorno da ditadura militar, sobretudo, pessoas que se dizem “cristãos”, por graça de Deus, o golpe programado por integrantes do governo passado naufragou!
Que essas pessoas sejam punidas no rigor da lei!
A recriação da cena em que Eunice Paiva e filha são levadas pelos policiais para depor, que na verdade é uma sessão de violência mental e psicológica que elas foram submetidas, e de modo particular a esposa do ex-deputado, é de tirar lágrimas dos olhos e de criar em nós uma revolta, uma indignação sem fim…
Ser cristão é ser a favor da democracia, da vida e da liberdade. Ditadura nunca mais!
A direção de Walter Salles é, ao mesmo tempo, uma reflexão dolorosa sobre a memória e um lembrete de que o Brasil nunca se desligou de seu passado, um passado que, por mais que tentem esconder, como tentam fazer repetidas vezes, jamais se apagará, pois ele ainda vive nas cicatrizes de uma nação.
O filme vem mostrar a importância de aceitar a dor para conseguir superá-la. Isso fica muito evidente na luta de Eunice Paiva! São experiências comuns às pessoas que experimentaram traumas emocionais. E foram muitas pessoas que viveram essa experiência nesta época sombria do país e que hoje são vítimas de diversas violências sociais!
Devemos, com afinco, expressar a necessidade de preservação da memória de um ente querido, alvo de violência injustificável, e de manter vivo um passado que ainda não foi totalmente submetido a um necessário acerto de contas no país, como se deu nesta situação! É doloroso saber que houve tentativas de boicote ideológico ao filme, por gente que não tem memória e digo, coração. Graças a Deus foram infrutíferas!
Os prêmios conquistados até agora pelo filme são extremamente merecidos, como o prêmio de melhor longa-metragem internacional no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs, nos Estados Unidos, no último domingo e ainda disputa vaga no Oscar.
É preciso encerrar em alto e bom som: DITADURA MILITAR NUNCA MAIS!
Pe Marcelo Campos da Silva D’Ippolito
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição – Rio das Ostras/RJ