Discipulado
Este livro foi escrito em 1937, em uma época bastante conturbada, principalmente para Bonhoeffer, que era alemão, pastor luterano e tinha passado uma temporada nos Estados Unidos em maravilhosa convivência com cristãos de uma igreja majoritariamente negra. Com a ascensão do nazismo, Bonhoeffer sentiu-se impelido a retornar para a Alemanha, pois via que a Igreja Luterana havia se sujeitado ao nazismo ao ponto de as suásticas serem erguidas dentro de templos. É importante saber desse contexto, pois o livro mostra uma visão bastante firme sobre o significado de ser cristão que levou Bonhoeffer ao martírio em 1945, morto por seu envolvimento com um grupo que planejou o assassinato de Hitler.
“Discipulado” é uma resposta prática aos desvios posteriores da teologia da graça de Lutero. Como Lutero apregoou que a salvação era somente pela fé e não por obras, muitos contemporâneos de Bonhoeffer viviam sem se preocupar em levar uma vida de compaixão e amor ao próximo. Esse ensino distorcido de Lutero causou a total capitulação da igreja alemã aos ideais do nazismo, incluindo o ódio aos judeus e a todos os que não fossem da chamada “raça ariana”.
Bonhoeffer mostra que a preciosa Graça de Jesus, tão bem vista e ensinada por Lutero, não pode ser dissociada de uma vida de amor e serviço a Deus e aos homens nesta terra. O ensino de Jesus, por exemplo, de dar a outra face, andar a segunda milha, orar por aqueles que os perseguem, abençoar quem os amaldiçoa deve ser visto como um mandamento que se torna vivo a partir desta preciosa graça dentro daquele que tem fé.
É algo muito forte, pois leva o leitor a um confronto direto a fim de questionar se sua vida é de fato uma vida cristã. Por isso é importante entender o contexto em que foi escrito, pois a decisão radical de Bonhoeffer de romper com o controle do nazismo sobre a igreja foi uma decisão baseada em uma escolha dura: seguir a Cristo, tomando a Sua cruz e participando de Seus sofrimentos (com a morte) ou viver tranquilamente, fingindo ser cristão, quando de fato estava negando o Evangelho, a saber, as palavras e as boas novas de Cristo.