Otoni de Paula critica bolsonarismo e apoio incondicional a Israel nas igrejas
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), membro da bancada evangélica e ex-aliado de Jair Bolsonaro, fez duras críticas ao que chamou de “sequestro” das igrejas evangélicas pelo bolsonarismo e pela idolatria excessiva a Israel. Segundo Otoni, os fiéis estão se concentrando mais em defender Israel do que em seguir os ensinamentos de Jesus Cristo. “Estamos perdendo mais tempo defendendo Israel do que pregando o evangelho”, afirmou. O deputado mencionou os ataques a civis palestinos na Faixa de Gaza, criticando a postura de apoio incondicional ao governo israelense e questionando a ausência de reflexão sobre as ações de Israel. Na mesma entrevista, Otoni expressou preocupação com o discurso de extrema-direita que, segundo ele, se infiltrou nas igrejas evangélicas, dividindo famílias e levando a um ambiente de ódio (Diário Carioca)
Pobres viraram à direita porque religião os acolhe na humilhação, diz Jessé Souza
No livro O Pobre de Direita, o sociólogo Jessé Souza investiga a mudança de inclinação política dos brasileiros de classes populares, especialmente as classes C, D e E, que têm se voltado para a direita. Souza critica as explicações simplistas, como o estereótipo do “gado” ou a ideia de que o conservadorismo é inerente à pobreza devido à religião. Em vez disso, ele propõe que a busca por dignidade e reconhecimento é um fator central para esse público, particularmente entre os negros pobres, que enfrentam níveis mais intensos de marginalização e violência. A religião evangélica, segundo Souza, oferece a esses indivíduos um espaço onde se sentem ouvidos e valorizados, algo negligenciado pela esquerda, que antes dialogava com as classes populares por meio da Teologia da Libertação na Igreja Católica. (Folha de São Paulo)
‘PT precisa de um pastor carismático que mostre que é possível ser evangélico e petista’, diz cientista político
As eleições municipais mostraram um PL forte nas grandes cidades, mas com dificuldades de vencer as diputas de segundo turno, evidenciando os limites de uma direita mais radical, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, analisa o cientista político Jairo Nicolau, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, em entrevista à BBC News Brasil. Na sua visão, a recuperação lenta da sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ocorre por falta de propostas e ideias, mas pela ausência de novos quadros que cativem o eleitor. “A direita está se renovando. O PT precisa se modernizar internamente e formar líderes. Essa é a minha ideia, diferente desse negócio de fazer documento [com novas propostas], chamar intelectual para conversar, ouvir pastores”, afirma Nicolau. “A esquerda precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a vida vai bem” (BBC Brasil)
Evangélicos dos EUA estimulam cultura de abusos ao defender Trump
Estreou nesta semana o podcast “The Sons of Patriarchy” (“Os Filhos do Patriarcado”), que discute o impacto político e cultural de um pastor controverso, Douglas Wilson, acusado de encobrir casos de abuso e pedofilia. Wilson é influente também no Brasil e, em janeiro deste ano, gerou polêmica ao ser escolhido como palestrante principal na maior conferência evangélica do país, apesar de sua visão ambígua sobre a escravidão. Wilson tenta persuadir seus seguidores a votarem em Trump. Para ele, a escolha é evidente: a agressividade do republicano é uma resposta bem-vinda a uma agenda esquerdista igualmente agressiva. Há líderes evangélicos conservadores no Brasil que compartilham dessa visão. Por conta desse inimigo comum, muitos recusam-se a acreditar nas histórias de abuso que se acumulam no ministério de Wilson em Moscow e em igrejas afiliadas —casos que o podcast promete explorar nos próximos episódios. Enquanto isso, sobreviventes de abuso espiritual e sexual em igrejas evangélicas manifestam unanimemente sua rejeição a Wilson e Trump, denunciando-os com veemência em suas redes sociais (Folha de São Paulo)
‘Me traumatizou’: os jovens ‘desigrejados’, que vivem a fé fora dos templos
No Brasil, um número crescente de “evangélicos não determinados” ou “desigrejados” opta por praticar sua fé sem vínculo com uma igreja institucional. Esse fenômeno, observado em meio ao aumento das comunidades evangélicas no país, indica uma busca por espiritualidade fora das estruturas formais das igrejas. Dados do Censo 2022 do IBGE mostram que o Brasil possui mais templos e estabelecimentos religiosos do que instituições de ensino e saúde, sugerindo o papel central da religião no cotidiano brasileiro. O teólogo e pesquisador Vanderlei Frari comenta que os desigrejados não rompem com a doutrina cristã, mas questionam a necessidade de uma estrutura institucional para praticar a fé. Muitos criticam o comportamento e as práticas de algumas igrejas, especialmente em questões de liderança e gestão financeira. Esse movimento reflete uma busca por uma experiência religiosa mais autêntica e independente, que desafia o modelo tradicional de igreja e redefine o que significa ser evangélico no Brasil. (Uol)
Na semana da Reforma Protestante, um aviso: evangélicos estão se convertendo ao catolicismo
Pouco falado ou descrito, o fenômeno da conversão de evangélicos ao catolicismo pode ser visto como uma fuga aos muitos ruídos causados pelas lideranças dessas igrejas, com suas disputas políticas e ideológicas; ao volume alto das “megachurches” e seus pastores midiáticos; à procura por uma partilha espiritual menos espetacular e mais silenciosa, inspirada nos chamados pais do deserto. Resumo o relato de minha amiga, líder de uma organização internacional da sociedade civil de grande impacto, em três grandes argumentos: a busca por uma interpretação mais ampla das Escrituras Sagradas, que diferencie o literal do simbólico; a necessidade de ter uma experiência espiritual mais mística e contemplativa; a procura por uma experiência estética. (Folha de São Paulo)
O espírito de Lutero ainda vive na diversidade evangélica?
No último 31 de outubro, comemorou-se o legado de 507 anos da Reforma Protestante, movimento que moldou não apenas a religião, mas também a cultura, a educação e a política no Ocidente. No Brasil, essa herança se diversificou ao longo das décadas, revelando um campo evangélico plural e, muitas vezes, conflituoso. Para o autor, que cresceu em uma família protestante nos anos 1980, a identidade evangélica passou por transformações de significado e aceitação. Se antes havia orgulho no impacto social do protestantismo, especialmente em temas como alfabetização e ética do trabalho, o crescimento do movimento trouxe também tensões com interpretações que divergem de sua vivência pessoal. Essa pluralidade, embora complexa, é o próprio cerne do protestantismo, que se baseia no direito à interpretação individual das escrituras, princípio defendido por Martinho Lutero em 1521. Para o autor, o protestantismo implica abertura para novas leituras, inclusive aquelas com as quais ele não concorda. Valorizando a liberdade de consciência, ele reconhece que a essência do movimento se esvazia se for negado o direito à diversidade de opiniões e interpretações. (Folha de São Paulo)
O feriado da Reforma Protestante em uma Alemanha cada vez menos cristã
A cidade de Wittenberg, com sua história ligada a Martinho Lutero e às 95 teses que iniciaram a Reforma Protestante em 1517, ainda celebra o feriado da Reforma em 31 de outubro, apesar da crescente secularização na Alemanha. A data, que passou por controvérsias durante o domínio socialista da Alemanha Oriental, voltou a ganhar relevância após a reunificação em 1990, adquirindo um valor simbólico como marco de unidade nacional. Em 2017, Angela Merkel declarou o feriado em todo o país para celebrar os 500 anos da Reforma, destacando temas como democracia e liberdade religiosa, em um contexto onde apenas 40% da população ainda se identifica como cristã. As comemorações hoje ressignificam a data, unindo passado religioso e valores contemporâneos de unidade em um país que enfrenta desafios de tolerância e coexistência. (Folha de São Paulo)
Tráfico evangélico repete lógica arcaica da guerra de divindades
A associação entre a expansão das igrejas evangélicas e a atuação de algumas facções criminosas no Rio de Janeiro decerto parece contraintuitiva para muita gente. Uma das explicações mais interessantes do fenômeno está no livro “Traficantes Evangélicos” (editora Thomas Nelson Brasil), que tive a oportunidade de ler em preparação para uma mesa-redonda na Bienal de São Paulo. O que mais me impressionou no livro da teóloga e historiadora Viviane Costa é como esse processo basicamente repete a lógica histórica que vemos no início da Idade do Ferro do Oriente Médio (há cerca de 3.000 anos) ou no mundo pós-romano na Europa há 1.500 anos: a adoção de novos deuses como estandartes de batalha. A expansão evangélica, inclusive entre membros do tráfico (processo que tem seu auge, por ora, na formação do chamado “complexo de Israel”), tem levado a uma substituição religiosa em que esses símbolos anteriores de poderio espiritual são destronados por uma linguagem e uma simbologia agressivamente purista e “cristã”. E há, é claro, uma associação desse novo poderio bélico com o Deus de Israel do Antigo Testamento. (Folha de São Paulo)
Otoni de Paula critica postura das igrejas sobre Israel
Em entrevista ao portal O Fuxico Gospel, o deputado e pastor Otoni de Paula criticou a atenção excessiva das igrejas brasileiras à defesa de Israel, afirmando que o foco principal deveria ser o evangelho e o exemplo de Jesus. Segundo ele, o envolvimento religioso em questões políticas de Israel tem desviado a mensagem central do cristianismo, que deveria se inspirar na vida e nos ensinamentos de Jesus. Otoni questionou a postura de fiéis que condenam atos de grupos como o Hezbollah, mas justificam ações semelhantes por parte do Estado de Israel, enfatizando que os cristãos devem ter Jesus como único modelo, e não personagens ou nações bíblicas (Fuxico Gospel).
Por que o drama cristão ‘A Forja’ tem feito tanto sucesso no Brasil? Longa é o sexto filme mais visto no país em 2024
O drama cristão aparece na sexta posição do filme mais visto no país até o momento, ficando à frente de “Aquaman 2”, “Godzilla e Kong”, “Garfield Fora de Casa” e tantos outros blockbusters. Ele conta a história Isaiah, um jovem de 19 anos, que é criado pela mãe solteira, não tem nenhum plano para o futuro e passa seus dias entre os jogos de videogame e de basquete. O filme de pouco mais de duas horas é praticamente um culto religioso e fala sobre fé, perdão, renúncia e o poder da oração. O sucesso de “A Forja” no Brasil reforça que filmes religiosos sempre vão bem por aqui. Sejam eles nacionais ou internacionais. E o mercado de obras do gênero é crescente. Tanto é que não faltou trabalho ao ator Cameron Arnett, que interpreta o grande mentor de “A Forja” (G1)
Um Museu da Bíblia em Brasília: para quê?
Em meio ao debate sobre cultos religiosos em escolas de Pernambuco, surge a reflexão sobre o projeto de construção do Museu Nacional da Bíblia em Brasília, uma iniciativa defendida pelo governador do DF, Ibaneis Rocha, e pela Frente Parlamentar Evangélica. A ideia, que enfrenta resistência judicial e foi suspensa pelo STJ, envolve R$ 26 milhões de verbas públicas para erguer o prédio no Eixo Monumental. A proposta, porém, é criticada por ser confessional, enfocando a Bíblia exclusivamente como texto sagrado cristão, sem contemplar um acervo museológico diversificado ou um projeto pedagógico que valorize a Bíblia como fenômeno cultural e literário, com importância histórica e social. Embora patrimônios religiosos como igrejas e terreiros sejam preservados com recursos públicos, a proposta do museu é vista como um favorecimento a uma visão religiosa específica, desrespeitando a laicidade do Estado. Críticos sugerem que uma instituição voltada à diversidade religiosa brasileira, incluindo a Bíblia como parte desse legado, seria mais adequada, ampliando o conhecimento cultural e respeitando a pluralidade de crenças. (Folha de São Paulo)
O Dia de Finados entre cinzas e QR Codes
Dia de Finados, é o momento de lembrar nossos entes queridos que já se foram. Embora o feriado permaneça o mesmo, o significado da morte e as formas de homenagear os mortos mudaram. Funerais estão mais breves, surgiram os cemitérios-jardim e muitos escolhem a cremação em vez do enterro. Mas será que essas mudanças são positivas ou negativas? Já ouviu falar de “sepultura ecológica”? Trata-se de uma tendência emergente em cemitérios de alto padrão: o falecido é cremado, e suas cinzas são misturadas ao solo ao pé de uma árvore previamente escolhida. Junto a isso, um QR Code permite que os visitantes acessem um vídeo com as melhores lembranças do ente querido. É perturbador imaginar que a experiência de um funeral possa se reduzir a um espetáculo tecnológico, onde a dor e a saudade são trocadas pela frieza de um QR Code e uma vida inteira seja resumida a 40 segundos de vídeo. Precisamos refletir se essa “evolução” tecnológica não nos afasta da essência do luto e da reflexão sobre a finitude. Em uma sociedade hiperconectada, corremos o risco de nos desconectarmos do que realmente importa: a memória, o afeto e a preservação da história daqueles que amamos (Folha de São Paulo).