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POLITICA E RELIGIÃO!

A mistura de religião com política nos últimos tempos tem demonstrado que desencadeou e fortaleceu o que existe de mais ruim nas pessoas, julgar que estão acima do bem e do mal!

Essa realidade vem mostrando uma mistura explosiva de ódio, de intolerância e de preconceito acompanhado de violência verbal e até mesmo física.

Vamos dar um salto na história e vermos que essa realidade foi definida pelo sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos como teologia política nos discursos daqueles que reivindicam a presença da religião na esfera pública. Porém, ele notou que não há muitas  semelhanças entre os diversos grupos e propôs uma tipologia para poder abordar a complexidade desta realidade.

Para entender tal tipologia é preciso lembrar que até cerca de dois séculos atrás religião e política andavam juntas. A coisa começou a mudar quando o Iluminismo propôs que o Estado deveria ser laico, ou seja, pautado pela lógica racional. Esta filosofia animou várias correntes que quando chegaram ao poder passaram a limitar  a influência política das religiões.
Entretanto,  até hoje  líderes religiosos tentam responder a isso, buscando resgatar a posição de influência na vida pública  dos textos sagrados, de modo que leis e valores religiosos passem a valer para todos.

O perigo está nesta imposição porque a sociedade é plural, nem todos são cristãos, judeus ou muçulmanos. Essa mistura de fato é muito perigosa!

Para Boaventura, há varias formas de distribuir essas respostas teológicas:

A primeira ele chama de pluralista, são aqueles que acreditam na organização da sociedade com a mistura da religião com politica, porém aceitam a autonomia de ambas.

A segunda é os fundamentalistas, que acreditam que os textos sagrados devem estruturar a sociedade em todas as suas dimensões. Historicamente, este termo foi criado no início do século XX. Tanto nos fundamentalismos cristãos quanto nos islâmicos há um princípio escrituralista*, ou seja, o texto sagrado independe do contexto social e deve ser entendido do modo mais literal possível.

O terceiro são os tradicionalistas que afirmam que as diferenças sociais, por já existirem também nos textos sagrados, são encaradas como naturais, inevitáveis ou até mesmo um desígnio divino, ou seja, uma sociedade desigual!

O quarto são os progressistas as desigualdades são desnaturalizadas e vistas como decorrentes de questões de um sistema social e econômico que atenta contra os princípios da religião. Traçam uma distinção entre a religião que se preocupa com os “oprimidos” e uma religião institucional que ajuda a manter os privilégios de quem esteja no poder. O progressismo tem ainda uma tendência ecumênica e inter-religiosa.

No Brasil lamentavelmente podemos citar a forte presença de políticos religiosos. No Congresso, por exemplo, existe a bancada evangélica, uma bancada temática que agrupa deputados e senadores alinhados com pautas morais. Entre elas estão proibição do aborto, discussões sobre gênero e prevenção da homofobia.

Ao mesmo tempo existem outros grupos religiosos com postura mais progressistas, que já se posicionaram publicamente contra leis que façam aumentar a violência contra homossexuais, por exemplo. Além disso, eles fazem parte de denominações pluralistas que abraçam pautas sociais, relacionadas a racismo, feminismo, desigualdade social e movimento LGBTQIA+.

O que o sociólogo português demonstra é que não é possível  colocar todos os religiosos no mesmo grupo. Há diferenças causadas pela pluralidade de olhares políticos sobre os temas.

A comunidade evangélica vem crescendo e ganhando cada vez mais destaque na vida política brasileira, tanto como uma parcela importante do eleitorado, como elegendo representantes. Eles representam cerca de 30% da população e a projeção é que se tornem o principal grupo religioso, ultrapassando os católicos, nas próximas décadas.

Nas eleições presidenciais de 2022, esse grupo além de ser disputado pelos presidenciáveis, assumiu posições com relação à disputa. Enquanto os setores mais conservadores e tradicionais apoiavam a reeleição de Jair Bolsonaro, a parcela mais progressista voltou-se para Lula.

Houve, inclusive, tensões com relação a isso. Pastores de algumas igrejas pentecostais, literalmente pressionaram seus fiéis a votarem em Bolsonaro, a coerção podia vir acompanhada de afirmações de que se o contrário fosse feito, aquela pessoa “não era cristã”. Veja o absurdo!

Assim como no passado, a religião e política continuam sendo próximas. A religião ainda é usada como instrumento para exercer poder, sendo hoje uma forma de influenciar a forma que as pessoas vão votar. Há uma grande instrumentalização das pessoas.

Reafirmo o quanto essa questão é explosiva e cria muito mal nas pessoas. A prova disso está neste ódio todo criado no Brasil, que é tido como um dos maiores países “cristãos”. Há toda uma desfiguração da essência cristã, onde o principal mandamento é o AMOR.

Pe Marcelo Campos da Silva D’Ippolito

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